quarta-feira, agosto 08, 2007

A promessa e a fera

Após uma caminhada na manhã nublada e fria, chegou no prédio.
Forçando um sorriso para o porteiro, disse bom dia e correu para o elevador. Não parava de pensar naquela noite passada que teve quase tudo para ser perfeita e nem por isso ela estava feliz. Para seu azar o elevador pára no sétimo andar e entra um vizinho. Tudo que ela não queria ver: gente. "Bom dia!" ele disse. "Oi" a educação dela falou. "A festa foi boa, hein?" ele ousou se meter ignorando qualquer regra de privacidade da vida alheia. "¬¬" ela olhou dando um tapa na educação.

Ótimo! Décimo andar. Tuc tuc tuc tuc, os sapatinhos corriam, quase que voavam em direção a sua porta de casa.
Pronto...casa! Finalmente, casa!
Antes que conseguisse chavear a porta, sentou-se no chão. Foi inevitável que uma cascata de pensamentos tristes e lágrimas desesperadas começassem a surgir. Ela olhava para seu sapato tão lindo, sentia o perfume que passara antes de sair e por milagre durou a noite inteira. Lembrou-se de como se maquiara cuidadosa e meticulosamente, e agora era tudo espalhado por seu rosto.

Ah! Olhou o apartamento, suas coisas, e tudo que tinha conseguido para sentir-se feliz. E deveria realmente não estar chorando naquele momento. Poderia ser muito pior! Poderia estar morando na praça perto de seu prédio juntando lixo para sobreviver. Não...Chega destes pensamentos Pollyana. Não nesta mnhã! Seu altar foi brutalmente destruído. Em apenas 5 horas soltou da jaula uma das feras que mais lhe assombrava. Deu ouvidos às palavras sórdidas e promíscuas de um estranho, respeitando sua nova filosofia de vida de "conhecer pessoas novas e dizer sim á vida". Como ela pôde trair-se deste jeito? A fera agora estava a sua frente. Ela ainda sentada no chão, ainda com os sapatos lindos e dolorosos nos pés, sentindo-se a mais frágil das mulheres. O monstro a olhava com uma cara de revolta por e menina tê-lo prendido e esquecido dele. Ela não sabia o que fazer.
Lembrou-se de como consegue ver certa beleza em cada pessoa, perceber detalhes meigos e singelos de cada mulher.E, olhando para sua roupa, seus dedos finos de unhas bem feitas, seu cabelo brilhoso caído pelos ombros levantou-se.
Podia ter-se deixado desrespeitar naquela noite. Sim, tinha traído seu amor próprio, seu desafio e sua integridade. Mas por mais que prazeroso fosse estar com aquela fera, não a podia deixar sugar-lhe o sangue novamente. Não havia alegria que valesse pelas suas forças perdidas.

Levantou-se, com toda a classe de quem tem promessa e missão a ser cumprida, deu um empurrão na fera com seu belo sapato. Trancou e jogou a chave fora. Foi ao banheiro olhar seus olhos molhados e rosto de maquiagem borrada, que ela sempre achou muito sexy, mas não há sentido naquela triste beleza. Lavou os olhos, desceu do salto e subiu na cama.

3 comentários:

eu disse...

Acho que a moça precisa se soltar mais.

não vou comentar nada a respeito, isso está pessoal demais. mas eu comentei no anterior.

bjos.

eu disse...

Ah, esqueci de dizer, adorei as onomatopéias.

Silêncio de Chumbo disse...

fechar os olhos e mergulhar...
um grande passo pra ser mais feliz.. =)